O fascínio chamado amor
O jogo do
amor, nesta véspera de Dia dos Namorados, está
sofrendo uma concorrência indecorosa. Só se fala em futebol. A
pipoca promete desbancar os bombons, a cerveja promete vencer os cálices de
vinho, e beijo, alguém falou em beijo? Só se for para comemorar vitórias em
campo. Não é hora de romantismo, e sim de patriotismo.
Suspiro. Nesse clima (ainda que insosso) de torcida
organizada, de nação reunida, de milhões em ação, fica difícil dedicar o tema
da coluna apenas para dois: um par.
Mas é o que me propus, desde que li, dia desses (acho
que no livro Doralina, de Luiz Horácio), uma frase que me fez pensar: “Amar é
encontrar aquilo que não se procura”. E subitamente lembrei daqueles que se
produzem no sábado à noite para sair em busca de paquera, de quem se vale do
aplicativo Tinder na esperança de achar sua cara-metade, de quem se matricula
em todos os cursos prevendo que dali será pinçado um candidato a marido ou a
esposa, de quem pede aos amigos para que lhe apresentem solteiros e solteiras à
disposição, lembrei de todas as artimanhas justas e válidas para que a pessoa
se recoloque no mercado amoroso, numa ânsia também justa e válida de preencher
seu vazio emocional – só que o justo e o válido não são mágicos.
Aquilo que vem por encomenda, atendendo a pedidos,
pode, claro, satisfazer plenamente seu desejo. Quer casa, comida e roupa
lavada? Tem quem ofereça. Quer companhia para o cinema? Aos montes. Quer sexo e
nada mais? Comece a distribuir senha. Se você está consciente do que procura,
encontrará alguém que se encaixe no seu ideal de relacionamento. Funciona mais
ou menos como uma entrevista de emprego.
Justo e válido.
Porém, amar é encontrar aquilo que não se procura.
Aquilo que surge sem explicação, que não tem lógica, e contra o que não adianta
lutar: nenhuma resistência é suficiente. Amar é puro fascínio. Você cruza com
uma pessoa que talvez nem equalize com seus sonhos, mas é com ela que se deu o
click, o curto-circuito, que algo foi despertado. A mágica está no que não veio
por encomenda, nem atendendo a pedidos, nem no momento certo, nem mesmo pegou
você de banho tomado – é um flechaço do Cupido, que às vezes é ruim de mira,
mas ao menos tem boa intenção. Ou, se não for a hora de falar em Cupido, mas em
Neymar, Fred, Hulk e Jô, pode-se dizer que a mágica é um potente chute de fora
da área no qual ninguém acreditou, mas a bola entrou assim mesmo. Gol.
Aos namorados de amanhã, grudem-se. Façam essa mágica
durar.
Aos solitários de amanhã, torçam – mas pela Seleção,
não por si mesmos. Esqueçam um pouco de si mesmos. Permitam-se parar de querer,
de procurar, de se preocupar. Sem planos e sem ânsia, aguardem calmamente a
chegada do que nunca pediram.
Jornal Zero Hora - 11 junho 2014
.
.
Como pode ser sempre tão boa com as palavras? Muito bom!! :)
ResponderExcluir