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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014



Amor.
Saúde.
Prosperidade.
Todo dia.
E abraços.

Até 2015!


Lu

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 31/12/14

Para iniciar bem o ano

Selecionei algumas frases de pessoas célebres e outras nem tanto, a fim de montar um mosaico que nos faça relaxar e refletir sobre essa aventura insana que é viver. Levantar de manhã já pode ser considerado um esporte radical, então está aí um kit de sobrevivência para nos socorrer quando estivermos ligeiramente em pânico e levando tudo a sério demais.

– Se quiser fazer Deus rir, faça planos. (aforismo iídiche)

– É preciso ter altos e baixos. De outra forma, você não saberia a diferença. Seria tudo uniforme, linha reta, como olhar para um monitor de batimentos cardíacos. E, quando rola aquela linha reta, baby, você está morto. (Keith Richards)

– Segurança não é ausência de perigo; segurança é o gerenciamento do medo. (Wendy Reid Crisp). – Sossega, porque nada há que esperar, e por isso nada que desesperar também. (Fernando Pessoa)

– Felicidade se acha é em horinhas de descuido. (Guimarães Rosa)  – As coisas boas vêm com o tempo. As melhores, de repente. (Denise Lessa)

– Tudo é saudável, menos interrogar-se constantemente sobre o sentido dos nossos atos. (E.M. Cioran) – Desconfio/dessa coisa/de pessoas do bem/e pessoas do mal/acho que só existem/as sensíveis/e as sem sal. (Josué Orsolin)

– Ninguém vale pela sua ascendência, pelo lugar onde nasceu nem pela tradição a que pertence, mas cada um vale pelo que conseguirá fazer da sua vida. (Contardo Calligaris)

– É melhor buscar a verdade do que a glória. Que humilhação ter a aprovação dos outros como objetivo. (E.M. Cioran)

– Aquele que não dispõe de dois terços do dia para si é um escravo. (Nietzsche)

– Eu gostaria de fazer um grande filme, desde que isso não atrapalhe minha reserva para o jantar. (Woody Allen) – O objetivo da psicanálise não é curar as pessoas, mas mostrar que não há nada de errado com elas. (Adam Philips)

– O custo de uma coisa é a quantidade de vida que se tem que dar em troca. (H.D. Thoreau) – Se você for sempre o guia, só vai chegar aonde já conhece. (Maria Rezende) – Um passo à frente e já não se está no mesmo lugar. (Sandra Flanzer)

– As pessoas se dirigem a Deus para obter o impossível. Para o possível, os homens bastam. (Pedro Maciel)

– Nunca vou entrar no céu. Minha esperança é um telão do lado de fora. (Dirceu Ferreira)

– Hoje é um bom dia para continuar insistindo. (Caio Fernando Abreu) 

- Desejo a todos um ano que valha o esforço de viver. (Nélida Piñon)



Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 31 dezembro 2014
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domingo, 28 de dezembro de 2014


Oi gente!

Eu tenho tantas coisas salvas, tantas imagens guardadas em tudo que é canto (leia-se agenda, cadernetas, post-its, papel rasgado, celular, tablet, notebook), que resolvi criar a fanpage do blog lá no Facebook. 

Fiquei pensando e acho que lá é mais rápido é fácil compartilhar tudo de lindo que eu encontro por aí. Vou continuar postando aqui também, "mãs" com menos frequência.

Então, quero convidar vocês a curtirem o CMA? também por lá.



Beijo e Abraço
Lu

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 28/12/14

Espero que 2015 não seja 100%


Que tudo que eu quero que aconteça não aconteça exatamente como imagino. Que eu consiga realizar meus projetos, mas que depare com pequenas dificuldades para continuar duvidando de mim mesma. Que me surjam ideias novas para abastecer minhas colunas, e também muitos dias de branco na cabeça para eu saber que meu cérebro nem sempre obedece aos meus comandos. Que meu trabalho atinja uma eficiência de 70% e me reste 30% de desacertos para não perder a humildade.

Uma amiga me desejou uma paixão que me tire o tino, me faça cambalear pela sala, que me deixe maluca, abobalhada, sonhadora, acreditando em fadas e duendes. Francamente, isso se deseja aos inimigos. Troco essa epifania por um amor que atinja a meta de 80%, o que já é uma megassena. Que seja vibrante, sim, mas que nos mantenha com os pés no chão, conscientes de que o paraíso emocional não existe, mas pode-se chegar bem perto e será o bastante.

Que haja uma porcentagem mínima de ciúme e desacordos, para que a segurança não seja total e se queira continuar junto dia após dia, a fim de alcançar o inalcançável. Que sobre 20% de solidão, aquela solidão necessária mesmo quando estamos apaixonados, aquela solidão que fortifica a alma e que serve também, entre outras coisas, para valorizar nossos vínculos.

Que minhas amigas estejam por perto, mas não 100%, porque gosto de ter novidades para contar quando nos encontramos. Que minhas filhas estejam por perto, mas não 100%, não porque eu não queira, mas porque eu espero que elas não queiram, ou não seriam garotas antenadas e saudáveis – que jovem adulto não sonha em aventurar-se em seus próprios caminhos? Que minha família de origem – pais, irmão, cunhada, sobrinhos – esteja por perto, mas não 100%, para que continuemos a viver em harmonia (mas vou continuar falando contigo todos os dias, mãe, prometo).

Saúde de atleta? Também não. Em relação à saúde corporal, fecho negócio em 95% pra mim e 5% para o oponente, a serem distribuídos entre espirros (pra lembrar que o corpo se queixa), febrículas (pela transgressão de cair de cama no meio da tarde) e dor de cabeça na manhã seguinte a alguma farra. E deu. 5% de vulnerabilidade são suficientes para me manter alerta, fazer exercícios constantes e abandonar o vinho depois do segundo cálice. Ou do terceiro.

Quanto à saúde mental, fico com 50% sem achar que é pouco. Nem pensar em 100% de certezas, teorias, eloquências. Nem pensar – mesmo. Menos pensar e mais agir, mais impulsos, mais riscos. Estou topando dividir minha sensatez com especulações, atrevimentos e algumas fantasias ordinárias.

A vida não é impecável, por que eu seria? Em 2015, não almejo o absoluto, o total, o 100% concluído. Que sobre espaço a preencher para me manter em movimento. Feliz ano novo e incompleto pra você também.



Jornal Zero Hora - 28 dezembro 2014
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Daqui:Um Cartão
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Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 24/12/14

Handle with care


Certamente você já leu a frase que acompanha o aviso “Fragile” em embalagens que chegam do Exterior. Duas mãos espalmadas circundam uma caixinha e a etiqueta diz: Handle with care. Manuseie com cuidado.

Uma querida amiga que mora na Suécia me mandou um e-mail nesta semana dizendo que muitas pessoas deveriam ter esse adesivo grudado no próprio corpo. Eu diria que não apenas muitas: todas. Afinal, nada mais frágil do que um ser humano.

Costumamos tratar com delicadeza as crianças, por seu tamanho e inocência, e os idosos, por sua vulnerabilidade física e por respeito, mas quando se trata da vastíssima parcela da população que se situa entre esses dois extremos, passamos por cima feito um trator desgovernado. A ideia geral é: adultos sabem se defender.

Alguns sabem, outros menos. Todos nós recebemos vários trancos da vida e acabamos desenvolvendo alguma resiliência e capacidade de nos regenerar, mas isso não quer dizer que não há dentro de nós algo que possa quebrar de forma irreversível.

E quebra mesmo. Espatifa de forma a impedir a colagem dos cacos. Handle with care.

Há por aí campanhas pregando mais gentileza e mais educação, e assino embaixo, naturalmente. Mas elas têm um caráter superficial, induzem apenas a gestos e atitudes corteses, como esperar alguém sair do elevador antes de a gente entrar, dar bom-dia a quem cruza por nós, desejar feliz Natal e boas festas. Isso é tratar bem, não tratar com cuidado.

Tratar com cuidado significa colocar-se no lugar do outro e dimensionar o quanto uma estupidez pode machucar. Significa levar em consideração as dificuldades de alguém a fim de não exigir demais de seus sentimentos e posicionamentos. Significa compreender que a comunicação é fundamental para o entendimento e a paz e que atitudes bruscas podem ser mal interpretadas. Significa honrar o laço construído e não colocar na intimidade a desculpa para agredir – agressões não podem virar hábito da casa.

O que cada pessoa leva dentro? Sonhos que podem parecer bobagem para os outros, mas que são sagrados para ela. Traumas que ainda não foram superados e que doem a cada vez que são lembrados. Vergonhas inconfessas. Feridas que custaram a cicatrizar e que basta um cutucãozinho para reabrirem. Desejos que não merecem ser ridicularizados. Necessidade de ser amado e aceito. Uma parte da infância que nunca se perdeu.

As pessoas gritam e rugem umas para as outras, quando não fazem pior: ignoram umas às outras, como se todos fossem feitos de pedra, como se todos estivessem protegidos por plásticos-bolha, como se a blindagem fosse geral: é só mirar e atirar que não dá nada.

Dá sim. Pode não parecer, mas todo ser humano é um cristal.



Jornal Zero Hora - 24 dezembro 2014
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domingo, 21 de dezembro de 2014

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 21/12/14

Maria Adelaide

Já escrevi sobre o mendigo que encontrei em Lisboa, aquele que trata sua mendicância como um show de humor e aceita esmolas online, e hoje vou falar de Maria Adelaide, que conheci em Cascais.

Eram 15h e eu ainda não havia almoçado. Escolhi um restaurante simples, com mesinhas num calçadão. O lugar estava vazio, mas logo vi que se aproximava uma senhora de idade que gesticulava muito e abordava a todos. Cansada, sentou-se ao meu lado. Dois palmos separavam uma mesa da outra. Eu havia ganhado companhia.

Só que ela não comeu nada. Pediu apenas um uísque e a minha atenção: contou que havia sido uma famosa corretora, que ganhara muito dinheiro e perdera tudo, que fora amante de um homem casado por 20 anos, que já havia disputado corridas de carro, que havia aprendido a tourear, que estivera na inauguração de Brasília, que fora abençoada pelo Papa João Paulo II, que havia sido amiga íntima da fadista Amália Rodrigues, e eu ali, encantada com aquele personagem pronto, saído de um livro que não havia sido escrito – ainda.

Nem em tudo acreditei. O que me impressionou foi sua vitalidade: ela não parava de falar. Quando não era comigo, era com os pedestres que passavam. Para todos, tinha uma palavra. Para o turista que vinha de bicicleta: “Salta, não pode andar com isso no calçadão, ó pá”.

Para o casal de namorados: “Não confiem um no outro!”. Para o DJ que estava na janela de um bar: “Só ligue o som depois que me for!”. Ao garotão com o jeans rasgado: “Isso lá é roupa, menino?”. Mas sempre com um sorriso gigante no rosto, orgulhosa da própria inconveniência. Depois de cada abordagem, batia na própria coxa e dizia: Ssou humana, sou humana”. Seu bordão. “Sou humana.”

O pessoal logo entendia que era um personagem folclórico, mas, quando o assédio era infantil, o clima pesava. A cada criança que surgia, ela dizia aos pais: “Me empresta seu filho um bocadinho”. Os pais sorriam amarelo e afastavam os miúdos de seus braços, enquanto ela me confidenciava: “Enlouqueço com crianças”. Nunca havia sido mãe.

Pedimos a conta, paguei o uísque dela e mais uma vez me veio à cabeça a expressão “couvert artístico”, a mesma com que batizei aquela cena do mendigo na rua. Foi quando ela levantou, abriu sua bolsa e colocou em cima da minha mesa diversas folhas xerocadas onde apareciam fotos dela em Brasília, fotos dela com o Papa, com Amália Rodrigues, bilhetes pessoais, recortes de jornal. Um dossiê.

Só então perguntou o que eu fazia. Respondi que era escritora. Ela me deu um beijo no rosto como quem diz: boa piada! E se foi.

Dia seguinte, passei de bicicleta por ela em outra rua. Abordava os transeuntes, claro. Ao me ver, já começou: “Salta, salta!”. De repente, me reconheceu e apreensiva, perguntou: “Você não é escritora de verdade, é?”.

“Vai render apenas uma crônica, se você permitir”. Dada a permissão, continuei a pedalar até chegar aqui.



Jornal Zero Hora - 21 dezembro 2014
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 17/12/14

A maior rua que existe


Estava descendo uma ladeira do Chiado, em Lisboa, quando passei por um mendigo. Seria mais um entre tantos que ocupam as calçadas, mas percebi que ele estava cercado de cartazes dizendo que a esmola iria para o uísque, o vinho, a cerveja, a ressaca. Um mendigo engraçadinho. Fiquei observando. Os turistas passavam, riam e distribuíam moedas não por caridade ou desencargo de consciência. Era couvert artístico.

Quando o pessoal se afastou, me aproximei dele e conversamos rapidamente. Vi que tinha um cartaz escrito “Ao menos sou sincero”.Perguntei se ele gastava mesmo em bebida e ele disse que comia alguma coisa, claro, e gastava também em locomoção, trocava de ponto, de cidade e até de país (estivera há pouco tempo em Sevilha), mas morava na rua mesmo. Ele estava sozinho naquele momento, mas o “espetáculo” não era solo, havia mais dois ou três amigos nessa onda, e com eles formava os The Lazy Beggers. Tinham até um site.

Um site?? Sim, para donativos online, assim as pessoas não precisariam se aproximar de uns sujeitos sujos e fedorentos, podiam doar dinheiro de forma rápida e segura pelo PayPal. Bem-vindos ao século 21. É a nova geração de mendigos, disse ele.

Como tudo começou? Eram artistas de rua, faziam malabarismo, tocavam alguma música, até que um dia um vira-lata que estava por perto começou a tremer e eles, de gozação, fazendo de conta que era alguma abstinência do bicho, colocaram um chapéu e um cartaz em frente ao cão dizendo “Para cocaína”. Em poucos minutos, o cachorro ganhou mais moedas do que eles na semana inteira. Adotaram-no, cuidaram dele (conheci, chama-se Nemo) e ele virou mascote da trupe.

A quem pergunta por que eles não trabalham, a resposta vem rápida: “Como, não trabalhamos? Passamos de oito a 12 horas nas ruas fazendo os outros rirem”. À noite, eles se recostam em algum canto e muitas vezes conseguem dormir em garagens de amigos conquistados nesses últimos cinco anos em que levam sua miséria na flauta.

No site, há dicas para quem quiser pedir esmola de forma criativa. Vale tudo: tocar um instrumento invisível e expor um cartaz dizendo “roubaram minha guitarra” ou colocar uma máscara com o rosto de alguma celebridade junto a um cartaz dizendo “para outra mansão”.

Funciona mais do que cartazes dizendo que se está passando fome. Lamentos não comovem mais ninguém, ele acha. As pessoas preferem remunerar o bom humor.

Por fim: o site funciona? Ele é franco: “Pouco”. As pessoas gostam de doar pessoalmente, mas como ficar fora da web? A internet é a maior rua que existe.

Dei a ele uns trocos e pedi para tirar uma foto. Ele levantou um cartaz dizendo que fotos custavam 278 euros. Tirei a foto mesmo assim e sorri. Ele respondeu: está pago.



Jornal Zero Hora - 17 dezembro 2014
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domingo, 14 de dezembro de 2014



"Depois da tempestade

O silêncio, a saudade

E todo amor que houver de verdade"


(Velho Eu - Seu Cuca)

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 14/12/14

Os ratos da selva

Tudo começou quando Yann Arthus-Bertrand, criador da Fundação GoodPlanet, passou um dia com um aldeão enquanto esperava o conserto do helicóptero em que viajava pelo Mali. Ele estava lá para fotografar paisagens, mas se encantou pelas expressões e pela humildade do aldeão, e foi assim que teve a ideia do projeto 7 Mil Milhões de Outros, que exibe o que pensam, sentem e sofrem habitantes de todas as raças, idades e gêneros do mundo inteiro. Parece simplório, mas é apenas simples e comovente.

Assisti à exposição de vídeos no Museu da Eletricidade, em Lisboa, e, coincidência ou não, os depoimentos liberam uma energia que faria levantar um morto. Não estaremos todos meio mortos quando se trata de enxergar profundamente os nossos vizinhos no planeta?

Não há como não se emocionar vendo, em salas escuras, o rosto em plano fechado e hiperampliado de homens e mulheres falando de suas tristezas, alegrias, recompensas, tudo com a honestidade das confissões, coisa que rede social alguma consegue igualar. Sei que o Facebook é divertido, uma cachaça, mas estamos todos ali nos exibindo através dos nossos posts. Sim, fazendo conexões também, mas estimulados, em algum grau, pela vaidade, o que não é pecado, mas evita que nosso eu sensitivo e falível se comunique olho a olho.

Os depoimentos estão todos disponíveis no site www.7milmilhoesdeoutros.org, separados por temas. Se não tiver tempo de ouvir todos, espie ao menos o mosaico. Não sentirá o mesmo impacto que a exposição proporciona, mas perceberá a riqueza emocional de cada pessoa, que é raramente manifestada e de uma beleza que ultrapassa padrões estéticos.

E também irá refletir sobre o que de fato nos define: nossas superações, nossa fé, nossos meios de sobreviver às adversidades e a potência bombástica da dor e do amor, os dois poderes que nos regem. Não há como sair dessa experiência sem se sentir um pouco miúda e envergonhada por focarmos apenas em nossos próprios problemas, como se nada mais existisse no mundo além do nosso umbigo.

Num dos depoimentos, um árabe conta que nunca havia chorado, que em sua cultura o homem sempre foi o leão da selva, até o dia em que ele colocou sua mãe num caixão e a levou ao túmulo, recordando o quanto ela detestava sair de casa. Naquele momento, ele chorou pela primeira vez e percebeu que não passava de um rato da selva.

Quando é que as pessoas revelam o seu real tamanho? Talvez não seja quando resistem, e sim quando se entregam. Os “ratos” são desprovidos de juba e majestade, reconhecem a própria fraqueza e respeitam as fraquezas alheias. Quando todos nós nos enxergarmos pra valer e descobrirmos que somos diferentes por fora, mas constituídos das mesmas emoções, aí talvez encontremos a nossa verdadeira força.



Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 14 dezembro 2014
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Apenas

Foto: de quem você sempre procura aquele abraço?


Daqui: Amorragia
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Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 10/12/14

Todos os dias em cartaz

Passei uma semana em Portugal e trouxe de lá algumas ideias para crônicas, mas elas terão que esperar, pois nesse meio-tempo fui assistir a Boyhood e se eu adiar meu comentário temo que você perca o filme. Pois é, estou assumidamente recomendando-o, o que sempre é um risco. Uma amiga foi ver Relatos Selvagens depois de ler a coluna em que eu o celebrava e saiu no meio, mas prefiro achar que ela estava num dia ruim, apenas.

Um casal também saiu no meio da sessão em que eu assistia a Boyhood, e estou certa de que eles receberam uma chamada avisando que sua casa estava em chamas, só pode. O filme é longo, mas curtíssimo se considerarmos que narra a trajetória de um garoto entre os seis e os 18 anos – com o mesmo ator. Um filme rodado durante 12 anos, acompanhando pacientemente um menino se transformar em homem, merece que fiquemos reles 165 minutos colados na poltrona do cinema. E esse é só um dos motivos.

Boyhood é daqueles filmes em que não acontece nada, a não ser a vida. É comovente assistir ao amadurecimento do garoto Mason através da sua relação com os pais divorciados, do convívio com sua irmã implicante, de seu despertar para a sexualidade através de revistas de mulher nua, do bullying na escola, das relações com padrastos indesejáveis, da necessidade de se autoafirmar junto aos amigos, do primeiro amor, do pavor de vir a reproduzir o mesmo destino trilhado pela geração passada e das dúvidas infinitas sobre o que ser quando crescer – se é que vale a pena crescer num mundo que oferece tão poucas saídas originais.

É sobre isso tudo o filme em que não acontece nada.

Saí do cinema envolvida por aqueles seres humanos que, na tela, mostram o quanto somos diferentes uns dos outros e o quanto a necessidade de se ajustar iguala a todos. Me identifiquei com os pais que buscam encurtar as distâncias com os filhos e fiquei mais tolerante com os filhos que precisam de distância para continuar a se relacionar bem com os pais.

Vi a mim mesma nos variados papéis já interpretados até aqui (filha, mãe, mulher etc.) e com papel nenhum, à deriva. Mas sem melancolia, apenas com o reconhecimento sereno de que o tempo passa, dando a impressão de que os dias se repetem idênticos, mas na verdade cada dia vivido encerra em si uma história apaixonante com começo, meio e (melhor de tudo) com um fim sempre em aberto, com continuidade amanhã.

Quando foi publicada a crônica “Luz fria”, em 23/11, eu estava fora do Brasil, de férias, o que tornou impraticável responder aos quase 150 e-mails recebidos, todos solícitos em listar os variados tipos de lâmpadas com luz cálida disponíveis no mercado. Então fica aqui um agradecimento coletivo por me avisarem do que eu não sabia e a confirmação do que eu sempre soube: cálidos são vocês, queridos leitores.



Jornal Zero Hora - 10 dezembro 2014
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014


I do want you in my arms so bad!! I can actually feel your worries melt away when I hold you safely there close to me. I could do it all night..nothing in the world like it Baby! I just love being there for you & being what you need at every moment! That's true happiness to me..knowing you are completely at ease with no worries!! I Love being the man that you trust your heart with..it is such a privilege!! I Love YOU more than life itself!! :-*:-*:-* You are my true happiness!!***

"Quem ama não é espontâneo, apenas se atrapalha. 
É tanta vontade de dar certo que exageramos o cuidado. 
É tanta vontade de abraçar que esmagamos. 
É tanta vontade de beijar que mordemos. 
É tanta vontade de viver que adoecemos.
A preocupação é urgência, a saudade é socorro, 
o medo é emergência.
Mas só para quem ama. Os outros estão salvos."


(Fabrício Carpinejar)

domingo, 7 de dezembro de 2014

Martha Medeiros - Jornal O Globo - 07/12/14



Crônica gentilmente enviada pelo Jacob Lam, da página Crônicas de Martha Medeiros



Meu verão de A a Z




Ela está aí, batendo na porta: a estação mais gostosa, sensual e alegre do ano. Como aproveitar? Selecionei algumas dicas mundanas e absolutamente pessoais, coisas que me fazem feliz e que talvez sintonizem com suas preferências também. O importante é curtir esse verão quente de um jeito cool.


A: Ar-condicionado. Arpoador. Água. Amigos. Acordar cedo. Ataque de riso. Astromélias. 

Artesanato. Artista de rua.


B: Bicicleta. Bom humor. Biquíni. Búzios. Buda. Banda do Mar.


C: Caminhadas. Cores vivas. Chuva. Consciência ambiental. Camiseta. Camarão. Calma.


D: Dolce far niente. Drenagem linfática. Declaração de amor.


E: Espumante. Estrada.


F: Férias. Frescobol. Filtro solar. Fio dental (entre os dentes!). Food trucks. Frutos do mar.


G: Grenal. Grana. Gengibre.


H: Hidratante. Havaianas. Hippie chic.


I: Intimidade. Inspiração. Ipod. Iogurte grego. Ilha grega.


J: Jipe. Jorge Benjor.


K: K.C & The Sunshine Band (“That’s the way I like it”).


L: Livros. Lírios. Lugares exóticos. Lua cheia.


M: Mar. Marrocos. Mediterrâneo. Mapa astral. Morro de São Paulo.


N: Noronha. Namoro. Natureza.


O: Ouro branco (o bombom). Ouro branco (o metal). Óculos escuros. Off-line.


P: Punta Del Diablo. Piscina. Preguiça. Piquenique. Pousadas. Pé no chão. Picolé de 
abacaxi. Pulseiras. Pilates.


Q: Queijo ementhal. Queijo parmesão ralado na hora. Queijo de cabra. Qualquer queijo.


R: Rabo de cavalo. Rio de Janeiro. Ricardo Darín. Rock. Rasteiras.


S: Simplicidade. Sexo. Sol. Santa Catarina. Surfe.


T: Toalhas brancas. Teatro. Terraço.


U: Uruguai. Uvas.


V: Ventilador de teto. Viagens. Vadiagens. Vestidos. Vintage Trouble. Vinho verde. Vida.


X: XXI, o século.


Y: Yin. Yang. Yoga.


W: Woody Allen.


Z: Ziriguidum, pra quem gosta. E pra quem não gosta, uma boa rede na sombra e zzzzz.


Jornal O Globo – 07 dezembro 2014

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