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domingo, 15 de janeiro de 2012

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 15/01/2012

Vinte segundos de insanidade: por que não?


Fui assistir a Compramos um Zoológico nem tanto pelo casal protagonista, Matt Damon e Scarlett Johansson, e sim porque gosto muito do trabalho do diretor Cameron Crowe e sabia que ao menos a trilha sonora estaria garantida, nisso ele é craque. O filme não tem a pegada dos trabalhos anteriores dele, mas não foi perda de tempo. 



É um filme terno, leve, bem família, ao estilo Walt Disney, com todos os elementos que caracterizam esse tipo de produção: órfãos, bichos, romance, uma garotinha que é um encanto e a confortadora previsibilidade protegendo contra qualquer susto. 

Além da trilha sonora, que realmente não desapontou, o filme vale pela bela cena final e por uma pequena frase interrogativa que se destaca no roteiro. Mas, antes, a história do filme: um homem na faixa dos 30-40 anos fica viúvo e resolve dar uma mexida na rotina. 

Ao buscar uma nova casa, acaba adquirindo uma residência abandonada de 18 hectares que abriga um zoológico prestes a ser desativado caso o novo dono da propriedade não invista pesadamente no negócio. Você tem ideia de como se administra um zoológico? Matt Damon também não, e os filhos dele, muito menos. Por que alguém se disponibilizaria para esse fracasso anunciado? 

Ao ser questionado sobre a roubada em que se meteu, o personagem de Damon não encontra uma resposta plausível. Só lhe resta devolver a pergunta com outra pergunta: por que não? 

É um filme sobre possibilidades nunca antes cogitadas. É sempre mais confortável transitar em terreno conhecido, mas que transformação advém da comodidade? Nenhuma. 

No filme, o pai ensina para o filho adolescente: há um momento na vida – ou até mais de um – em que é preciso reunir 20 segundos de coragem, sem pensar nas consequências. Bastam 20 segundos para se declarar a alguém sem nenhuma segurança de reciprocidade, ou 20 segundos para dizer a um corretor: fico com essa casa estropiada. Vinte segundos de ousadia, por que não? 

Perguntar-se “por que não?” me parece estimulante para começar um novo ano. Exigem tanta explicação para nossas escolhas, tantas teorias e argumentações que justifiquem nossas atitudes, que se torna libertador devolver aos nossos inquisidores um “por que não?”. 

Qual é o problema de se aventurar? Mesmo os ponderados – dos quais sou representante de turma – reconhecem que chega uma hora em que o convite para arriscar merece ser atendido. O pior que pode acontecer é tudo dar errado. Pior em termos. Dar errado não é tão ruim diante alternativa de nunca ter tentado. 

Eu não compraria um zoológico nem sob a mira de um rifle automático, mas a história aconteceu de verdade e, bem, o resto o filme conta. Se você prefere um cinema mais adulto e palpitante, assista ao ótimo Tudo pelo Poder, que mostra por que os idealismos são tão frágeis nos dias de hoje, mas se o objetivo for diversão, comoção e uma pitada de incentivo para se viver de uma forma menos burocrática, Compramos um Zoológico, por que não? 



Jornal Zero Hora - 15 janeiro 2012
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