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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 05/02/2012

Empregadas Domésticas


Ouvi em algum lugar que o número de empregadas domésticas tem diminuído de ano a ano no Brasil. É uma boa notícia. A oferta de empregos aumentou e essas profissionais estão buscando colocação em outros setores, onde possam ganhar mais e alinhavar um plano de carreira. 


Pode ser bom inclusive para seus empregadores, que terão que se adaptar a um novo estilo de vida: eles próprios farão os afazeres domésticos, convocando a família inteira para colaborar. Ninguém morre se tiver que cozinhar e lavar uma louça, e me parece digno que os filhos entrem nesse mutirão, se preparando melhor para a vida. Hoje não mexem um dedo porque tem uma Maria que faz tudo por eles. 

Pois a Maria, segundo estatísticas, não quer mais ser empregada doméstica, e sim ter um status mais elevado. Quem sabe, ser uma secretária. De fato uma secretária. Muitas pessoas chamam suas empregadas de secretárias, na boa intenção de prestigiá- las. Acho estranho. Então devemos chamar as verdadeiras secretárias de quê? Empresárias? 

Pessoas que promovem verbalmente suas funcionárias acreditam estar valorizando-as, mas parece o contrário: demonstram que ser empregada doméstica não é honroso, a ponto de fingirem que elas são outra coisa. 

Se eu me referisse à minha empregada como "secretária", creio que estaria revelando desdém a sua real função. Seria o mesmo que chamar o peão-de-obra de engenheiro ou a garçonete de chef de cozinha. Um upgrade de mentirinha. 

Algumas empregadas domésticas ainda não são totalmente alfabetizadas. Não dominam o uso do computador. Não controlam a agenda profissional de seus patrões. São exímias cozinheiras, arrumadeiras, braços direitos das famílias, mas não fazem o que uma secretária faz. Assim como secretárias podem não saber fritar um ovo e nem passar direito uma camisa. Uma não substitui a outra. Uma não é melhor que a outra. Ambas são imprescindíveis, cada uma em seu ambiente de trabalho. 

Se a palavra “empregada” parece pejorativa, pode-se chamá-la de funcionária, que é o que ela é também. Já chamá- la de secretária apenas expurga a culpa do patrão, que não quer parecer um senhor do engenho, do tipo que tem escravos. Ou seja, ele se utiliza de um eufemismo para provar que respeita todos os direitos trabalhistas da sua funcionária. 

Nem se dá conta de que esse pudor com a palavra empregada talvez desmereça as profissionais que tiveram a chance de estudar mais e que fizeram cursos preparatórios para trabalhar numa empresa, e não numa casa de família. 

Secretárias não fazem trabalho doméstico, e sim de escritório. Apesar de eu nunca ter lido nenhuma pesquisa a respeito, tenho a impressão de que elas devem se sentir desconfortáveis ao verem as duas funções confundidas. 

Eu, às vezes, me confundo. Outro dia me disseram: vou te levar lá em casa para provar o suflê de queijo que a minha secretária preparou. Logo pensei: coitada, fazendo hora extra.  



Jornal Zero Hora - 05 fevereiro 2012
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2 comentários:

  1. Eu sou secretária. Todos os dias chego um pouco mais cedo pra limpar e tirar o pó. Nunca morri por isso e mto pelo contrário, adoro sentir o cheiro de limpeza q fica depois.

    Bjãoooo!!!

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  2. Também concordo contigo em chamar as pessoas da forma exata com que seu trabalho a colocou...Toda e qualquer forma de esforço tende ser valorizada de honrosamente,só assim as pessoas perderão essa ideia de desvalorização.
    No caso das empregadas...o serviços na maioria das vezes esgota a pessoa fisicamente e nem sempre é remunerado como deveria ser....acho legal elas procurarem algo mais estável.

    bjks

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Vem cá, me dá um abraço?!?!?

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