Diminutivos
Domingo que
vem, Mario Quintana faria cem anos. Um poeta superlativo, que de franzino só
tinha a aparência. Mas houve quem tentasse fazê-lo parecer menor do que era. É
sabido que certa vez um figurão disse a ele: "Gostei muito dos seus
versinhos", no que Quintana rebateu: "Obrigado pela sua
opiniãozinha".
Diminutivos caem bem quando aplicados aos nomes próprios. Verinha, Tavinho,
Soninha. Há até quem tenha recebido este carinho já na certidão de nascimento:
a maioria das Terezas que eu conheço são, na verdade, Terezinhas, assim
registradas em cartório.
No mais, os diminutivos são aceitáveis no universo infantil,
quando a vida parece o Minimundo. "Gostou do brinquedinho?"
"Quer mais uma bananinha?"
E ficamos por aqui. Conversa entre gente grande não comporta excesso de
"inhos" e "inhas", a não ser que se esteja a serviço de um
plano de tortura.
Uma vez, entrei numa loja cuja funcionária conseguiu abalar meus nervos.
"Oi, amorzinho, posso te ajudar?" "Qual é o teu nomezinho?"
"Esta blusinha vai ficar uma gracinha". Parecia que eu estava na
Saci. Lembra da Saci, aquela loja de roupa infantil do tempo em que criança se
vestia de criança? Não agüentei nem dois minutos, fui embora antes que ela me
fizesse regredir ao útero materno.
Tem aquela situação clássica: quando te chamam de filhinha. Uma vez testemunhei
um palestrante responder assim à pergunta de uma moça na platéia: "Veja
bem, filhinha..." Eu teria me levantado e dado boa-noite. Atender por
filhinha e filhinho, só se forem seus pais chamando, e eles sempre lhe chamarão
deste modo, mesmo que você seja um filhão de 57 anos com 1m90cm de altura.
Escolha: ganhar um beijinho ou um beijo? Descolar um dinheirinho ou ganhar
dinheiro? Comprar um carrinho ou um carro? A maneira como falamos revela como
nos sentimos: se fazendo conquistas ou recebendo esmolPara as gurias: jamais
tolere ser chamada de mulherzinha. Imediatamente você estará permitindo que lhe
etiquetem as piores qualificações, já que mulherzinha é fragilzinha,
dependentezinha, medrosinha, boazinha. Que boazinha, o quê. Mulher tem que ser
boa. Ou má.
Melhor se precaver contra os que se aproximam cheios de diminutivos. Pode ser
afeto, mas também pode ser ódio. Quando uma mulher chama outra de
"queridinha", está, no fundo, querendo saltar na jugular da querida.
Quando um homem diz: "Vou ali falar com aquele carinha", há grande
chance de o papo terminar em pancadaria.
Cuidado com tanta meiguice. as da vida.
Foi publicada em julho de 2006, quando então Mario Quintana estaria
completando 100 anos, portanto, domingo que vem não seria o
aniversário dele. Em 30 de julho de 2013 ele completaria 107 anos.
Explicando bem explicadinho porque tem gente
que me escreve como se este blog fosse
da própria Martha Medeiros...
=)
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