O Brasil irregular
Tragédias como o desabamento dos três prédios no centro do Rio não são corriqueiras, mas o motivo pelo qual acontecem é. E continuará sendo enquanto o Brasil seguir desprezando as leis, como se lei fosse coisa pra gente sem imaginação. Podemos ter virado exemplo de economia bem gerida, mas enquanto a irresponsabilidade se mantiver como nossa conduta padrão, continuaremos campeões em violência no trânsito, em mortes em corredores de hospitais, em deslizamentos que soterram famílias, em intoxicações e outras “fatalidades”.
Lei existe para determinar o que pode e o que não pode. Parece óbvio, mas muita gente matou essa aula.
Não se pode fazer uma obra sem o laudo de um engenheiro e a autorização da prefeitura. Não se pode dirigir alcoolizado. Não pode um médico faltar ao plantão. Não pode um barraco ser construído de qualquer jeito em cima de um morro.
Transgredir é atraente. Ninguém aguenta passar a vida toda sendo exemplo de santidade. De vez em quando, é bom surpreender e fazer o que ninguém espera, mas até para transgredir existe uma regra, que Cazuza resumiu em letra de música: “Eu não posso fazer mal nenhum, a não ser a mim mesmo”.
Quer sair da estrada convencional e pegar uma rota alternativa? Bênção da tia. Existem diversas maneiras de a gente firmar nossa identidade sem causar nenhum dano à sociedade. As consequências são pessoais e quase sempre calculadas.
Agora virou moda dizer que quem fala mal do Brasil tem “complexo de vira-lata”. Mas tem que falar, tem que comparar. Nos países da Europa e nos Estados Unidos, que estimulam a individualidade e a liberdade em suas mais diversas formas, ninguém é considerado careta por respeitar as leis.
Óbvio que lá também acontecem acidentes de trânsito, desmoronamentos e tragédias similares às de qualquer outro país, só que vira escândalo e quem erra vai preso. Não apenas os pobres, mas os ricos também. A lei não é abstrata nem flexível, é concreta.
O Brasil tem muitas coisas boas: povo alegre, natureza, música e agora a tal economia que arregala os olhos dos gringos. O que falta para nos tornarmos um país desenvolvido de fato? Cumprimento da lei. E na falta desse cumprimento, rigor na punição. Ainda somos, miseravelmente, o país do jeitinho.
Vendemos medicamento sem receita, instalamos “gato” para roubar a luz do vizinho, estacionamos em cima da calçada, molhamos a mão do fiscal, batizamos a gasolina, superfaturamos a nota, tudo malandragem aceita com benevolência, até que uma obra sem supervisão, como tantas outras por aí, escancara nosso desleixo e nos devolve ao subdesenvolvimento. Até quando? Até todos continuarem soltos, bebendo sua cervejinha na paz de Deus e rindo dos trouxas que fazem tudo certo.
Jornal Zero Hora - 01 fevereiro 2012
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