O humor que desmoraliza
A morte de Chico Anysio e as merecidas homenagens que ele tem recebido nos fazem pensar sobre a mudança por que o humor vem passando. Lembro com saudade do “Não garavo” (Alberto Roberto), “Ca-la-da!” (Nazareno), “Isso me ama” (Coronel Limoeiro) e outros bordões que povoaram minha infância (assim como “ô Cridê, do Golias, o “muy amigo”, criado pelo Jô, e “ô psit” do Renato Aragão), mas teve uma hora que cansou.
Era o momento de abraçar o espírito renovador da TV Pirata, do Casseta & Planeta, de Os Normais e do recente Tapas e Beijos, programas menos populares se comparados aos antecessores, mas igualmente criativos.
Humor bom é aquele que chama a atenção para nossos preconceitos fazendo graça. Chico Anysio criou um pai de santo homossexual, um político que assumia odiar os pobres, um marido que tratava mal a mulher por ela ser feia, um pastor evangélico que só se interessava em passar a sacolinha, um jogador perna de pau que pensava que era craque, e nada disso soava grosseiro, apenas divertido.
O que mudou da geração Chico City para a geração TV Pirata foi a espontaneidade das interpretações e um pouco de perda da inocência, mas só um pouco. Até que chegamos ao humor de agora, de inocência zero. Do que se ri hoje? Não do ridículo, e sim da ridicularização. Engraçado é você humilhar.
Fora do Brasil, a mesma coisa. Adeus ao surrealismo hilário de Monty Phyton: que venha o Borat, representante de um humor moderno que eu, particularmente, abomino. Não que ele seja irrelevante, mas essa comicidade que deprecia e constrange, típica das pegadinhas e dos trotes, confirma que a grosseria passou a ser reconhecida como um forte traço de caráter do ser humano.
Ninguém vai esperar que um humorista seja cerimonioso, mas há uma linha tênue que separa o burlesco do grotesco. Semana passada, assisti a um stand up em Porto Alegre (Desculpe, mas o Ator Americano Ficou Doente), que levou o público às gargalhadas com imitações, irreverências e piadas politicamente incorretas, tudo com o melhor dos respaldos: a inteligência. Não há como se sentir agredido pela inteligência – a não ser que você não a tenha.
Já fomos mais elegantes, inclusive para fazer rir. Por ora, o humor tem se valido do esculacho mais vil e miserável. O que explica essa nostalgia toda por Chico Anysio.
Você sabe o que é autismo? Poucos sabem. Domingo próximo, começarão diversas atividades que visam esclarecer sobre a doença e alertar sobre a importância do diagnóstico precoce. Tudo começa com uma caminhada às 11h30min, com saída do Brique da Redenção. Vista uma camiseta azul e participe. Temos cerca de 2 milhões de crianças autistas no Brasil e quase nada de informação.
Jornal Zero Hora - 28 março 2012
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