O dinheiro que
grita
Todo mundo quer ter dinheiro e não há nada de errado com
isso, desde que seja conquistado por mérito próprio, sem roubar de ninguém
tampouco do município, do Estado e da nação.
Dinheiro limpo é bem-vindo: nos proporciona
viagens, prazeres, conforto, cultura, saúde. Saúde não apenas física, mas
mental, e não estou falando do fato de poder pagar um analista se for preciso,
mas da tranquilidade de não ter dívidas. Uma pessoa sem dívidas dorme melhor,
pensa melhor, respira melhor.
Além de limpo e honesto, dinheiro bom é
dinheiro silencioso. Que não se exibe, não se pavoneia, não aponta para si
próprio dizendo: olhem eu aqui! Conheço milionários que tem com o dinheiro uma
relação discreta. Claro que moram bem, viajam, possuem um bom carro, mas não
ostentam, não botam seu dinheiro no sol para brilhar e ofuscar os outros. O
dinheiro tem que ser elegante como o seu dono. Ninguém precisa lidar com o
dinheiro como se fosse um bicheiro.
Mas é como muitos lidam. Mesmo não abrindo a
camisa para mostrar suas correntes douradas nem transitando em limusines, ainda
assim há quem não se importe que seu dinheiro grite – aliás, até fazem questão
de ter um dinheiro bem marqueteiro.
São mulheres que colocam todas as joias que
possuem para ir a uma festa, usam bolsas com monogramas gigantes, instalam
chafarizes nas piscinas e compram os dias de folga dos empregados porque não
toleram a ideia de irem até a cozinha buscar seu próprio copo d´água num
domingo.
Homens que andam em carros que valem uma cobertura,
pets que vestem Prada, vinhos que são escolhidos pelo preço e namoradas idem,
que amor verdadeiro é coisa de pobre.
O rico que esnoba pessoas humildes tem um
dinheiro que grita. O rico que trata a todos com respeito e gentileza, tem um
dinheiro silencioso.
O rico que só gasta com grifes, tem um
dinheiro que grita. O rico que investe também no que é popular (e valoriza uma
pechincha, por que não?) tem um dinheiro silencioso.
O rico que perdeu o prazer de apreciar as
coisas gratuitas da vida, tem um dinheiro que grita. O rico que não perdeu a
conexão com aquilo que lhe dava prazer quando não era tão rico, tem um dinheiro
silencioso.
Quem dificulta o acesso a si mesmo através de
um sem número de assessores, guarda-costas, secretários, agentes e demais
bloqueadores humanos, tem um dinheiro que grita. Quem segue disponível pro
afeto, tem um dinheiro silencioso.
Costuma-se diferenciar um do outro dizendo que
um é o novo rico, e o outro, o rico de berço. Pode ser. Quem nunca teve, se
deslumbra. Reconheço que é muito bom viver bem e poder pagar as próprias
contas, tenham elas quantos dígitos tiverem. Mas dinheiro deveria ser educado
da mesma forma que um filho: nunca permita que ele seja insolente e ruidoso.
Jornal Zero Hora - 06 maio 2012
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