Imaginários
Queria acreditar que na sexta-feira, no finalzinho do dia
terei o descanso merecido, inclusive das torturas dos dias quentes. Acreditar
que os batimentos cardíacos não representam a fadada estafa que finjo não
existir.
Queria sim, como eu queria acreditar que o êxtase da alegria será proporcionalmente maior do que o da
dor e que um dia após o outro é o que devo viver sem muita pressa.
Queria acreditar na bolsa de valores. No Papai Noel. No
sorriso do palhaço. Na previsão generosa da cigana. No automático bom dia da
vizinhança. No boa noite do jornalista da TV. Na esperança dos cientistas. Nas
promessas dos políticos. No resultado positivo da loteria. No fim da inflação.
Na medicina naturalista.
Queria acreditar que relâmpago não é perigoso.
Que a taça cheia não vai embriagar. Que chocolate não engorda. Que o bandido
irá deixar o crime porque ele não
compensa.
Queria acreditar nos livros de autoajuda. Na beleza do meu
cabelo liso. Na minha falha memória. No “vai
passar” dito para a tristeza.Sinceramente
eu queria acreditar que quando casar sara. Quando crescer passa. Se comer não
engorda. Se perdoar a mágoa vai embora.
Queria acreditar que meu salário dará para todas as despesas. Que eu
definitivamente irei aprender os cálculos mais difíceis de Matemática. Queria
acreditar na lógica do homem.
Queria acreditar no fim do desafeto. Na insistência da
justiça. Na validade do perdão. No término da maldade. Na claridade da verdade.
Na ausência da inferioridade. Na cura da saudade.
Queria eu poder acreditar que o afeto será verdadeiro e que a palavra não mais
mentirá.
Queria sim acreditar, na infinitude do amor.
(Ita Portugal)
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