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sexta-feira, 23 de maio de 2014



Not Only Photos Set13

"Sei de cor como dói perder. Como dói perder várias vezes. Como dói perder o que tanto amamos. Que medo que dá de ganhar, depois, com a perspectiva assombrosa de uma nova perda. Que medo que dá de dançar com o improviso outra vez. Que medo que dá de reconhecer que a jornada, é, sim, feita de vida e morte. Que medo que dá de permitir que aquilo que morreu se transforme em húmus, no nosso coração, para nutrir as belezas que haverão de nascer. Sei de cor como é difícil o desapego. Como demora a chegada do instante em que, enfim, mais humildes, começamos a nos desarmar, a nos render à força que nos move, a deixar a vida fluir do jeito dela, sem a ilusão de conseguirmos amarrar as suas ondas.

Sei de cor os caminhos da fuga. Como nos tornarmos hábeis em inventar pretextos, contextos, textos, para fugir de nós mesmos. Como nos tornarmos hábeis em inventar pretextos, contextos, textos, para fugir dos outros, às vezes tão amados. Como dizemos bobagens quando queremos apenas dizer o nosso amor, o nosso medo, a nossa música, a nossa humanidade, a nossa divindade, a nossa vastidão. Sei de cor os caminhos da fuga. Os mecanismos conhecidos e aqueles outros todos que inventamos, assustados, pela estrada. Sei de cor que fugir, por mais incrível que pareça, acaba nos levando, cada vez mais um pouquinho, para mais perto dos encontros.

Sei de cor que viver é trabalhoso e que, de vez em quando, parece que o trabalho aumenta mais. Que nessas horas, às vezes a gente sente uma vontade enorme de correr, embora não exista lugar algum para onde possamos ir sem nos levarmos. Estamos o tempo inteiro com nós mesmos e essa é daquelas verdades que não mudam de cara, por mais que o tempo passe e tudo mude. Sei de cor que não importa as diferenças de cenário, de roteiro, de elenco, de trilha sonora, de efeitos especiais, todas as histórias têm algo em comum: o desafio e a graça do aprendizado do amor. É, sobretudo, para aprendermos a amar que estamos aqui. Às vezes, eu esqueço; você também, imagino. Mas a vida, não demora, vem nos lembrar de novo.

Sou uma caminhante na estrada do aprendizado do amor. Às vezes, exausta, eu paro um pouquinho. Cuido das dores. Retomo o fôlego. Depois, levanto e, seduzida, enternecida pelo chamado, cheia de fé, eu prossigo. Um passo e mais outro e mais outro e mais outro, incontáveis. Sei de cor que não é fácil, mas sei também que é maravilhoso olhar para o caminho percorrido e perceber o quanto a gente já avançou, no nosso ritmo, do nosso jeito, um passo de cada vez."



(Ana Jácomo)

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