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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Como nesta quarta-feira não teve coluna da Martha Medeiros no Zero Hora e algumas pessoas me perguntaram, vou postar um texto antigo dela pra matar a saudade. Este é de 2006.



Qualquer um


A reclamação é antiga, mas continua vigente: mulheres se queixam de que não há homem "no mercado". Acabo de receber um e-mail de uma delas, contando que faz parte de um grupo de mulheres na faixa dos 35 anos que são independentes, moram sozinhas, trabalham, falam idiomas, são vaidosas, têm cultura, fazem ginástica e que, mesmo com tantos atributos, seguem solteiras e temem não haver tempo para formar a própria família. No finalzinho da mensagem, descubro uma pista para a solução do problema: "Apesar de o relógio biológico estar nos pressionando, não queremos procriar com qualquer um. Queremos um cara bacana para ir ao cinema, almoçar no domingo, viajar nos finais de semana". 

Claro. Quem não quer? 

Não há problema nenhum em ser exigente, em querer uma pessoa que seja especial. O que me deixa intrigada é que há mais probabilidade de você encontrar "qualquer um" do que um deus grego com um crachá escrito Príncipe Encantado. Então me pergunto: as mulheres estarão dando chance para que este "qualquer um" demostre que está longe de ser um qualquer? 

Sou capaz de apostar que a maioria das mulheres, no primeiro papo, já elimina o candidato, e quase sempre por razões frívolas. Ou porque o sapato dele é medonho, ou porque ele não sabe quem é Roman Polanski, ou porque ele gosta de pizza de estrogonofe com banana, ou porque ele só gosta de comédia, ou porque ele mistura steinheger com cerveja, ou porque o carro dele é um carro do ano. Do ano de 1991.


Imagina se você, proveniente de uma família estruturada, criada dentro de padrões de bom gosto, com qualidades encantadoras, vai se envolver com este... com este... com este sei-lá-quem. 

Pois o "sei-lá-quem" pode ser, sim, aquele cara bacana que levará você para almoçar no domingo, mas você tem que dar uma mãozinha, minha linda. Recolha seus pré-julgamentos, dê umas férias para seus preconceitos, deixe seu orgulho de lado e saia com ele três, quatro vezes, até ter certeza absoluta de que o sapato medonho vem acompanhado de um caráter medonho, de um mau humor medonho, de uma burrice medonha. Porque se o problema for só o sapato e a pizza de estrogonofe, isso se dá um jeito depois, ele não há de ser tão inflexível. 

Aliás, e você? Garanto que também não sai pela rua com uma camiseta piscante anunciando Mulher Maravilha. Ele também vai ter que descobrir o que há por trás da sua ficha estupenda, e vá que ele implique com as três dezenas de comprimidos que você ingere por dia, com sua recusa em molhar o cabelo no mar, com sua fixação por telefone ou com os seus sutiãs do ano. Do ano de 1991 também. 

Esta coisa chamada "história de amor" requer um certo tempo para ser construída, e as que dão certo são aquelas vividas com paciência, com o espírito aberto e geralmente com qualquer um que consiga romper nossas defesas e nos fazer feliz.



Martha Medeiros
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