.

.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Martha Medeiros de férias, então vamos de crônica antiga. Esta é de 2004.



Prazo de validade


Li na coluna Almanaque Gaúcho de ZH de segunda-feira uma frase atribuída à cantora Fafá de Belém em que ela diz: "Tirei da minha vida todas as pessoas com prazo de validade vencido". Achei bacana, me pareceu uma decisão assertiva e descongestionante. Adeus para quem empata a vida da gente, para quem já deu o que tinha que dar, para quem não permite que a fila ande. Certas criaturas deixam de ser digeríveis. 

Depois parei, pensei e cheguei à conclusão de que a frase é inspirada, mas não se aplica a mim. As pessoas com quem me relaciono nunca ganharam prazo de validade. Sei lá se isso é bom ou ruim, mas a verdade é que se alguém entrou na minha vida, danou-se. Torna-se imperecível. Posso ficar anos sem ter ou dar notícias, mas a porta estará sempre aberta para um retorno, para um a-saga-continua, para um Olha Eu Aqui - parte 2. 

Naturalmente que entrar na minha vida não significa passar pela minha vida. Há pessoas com as quais nos relacionamos temporariamente no trabalho, na escola, ou mesmo que namoramos, e que não rendem nem um parágrafo na nossa biografia. Mas há aqueles que fizeram diferença - ou que poderiam ter feito se a gente tivesse se dedicado mais - e são eles as agradáveis surpresas que podem enriquecer nossa vida mais adiante. 

Enquanto escrevo, lembro de uma garota do colégio que não foi minha colega de aula, era apenas do mesmo ano. Tínhamos amigas em comum e sempre tivemos simpatia uma pela outra, mas por algum motivo nunca entramos para o rol das dez-mais-íntimas. Poderia o prazo de validade ter se esgotado lá mesmo, na escola, mas passados mais de 20 anos, eis que o destino nos coloca novamente frente a frente, e mesmo não morando na mesma cidade, resgatamos o humor dos velhos tempos e ainda descobrimos novas e bem-vindas afinidades. 

Vale para parentes nunca mais vistos, namorados que nunca aprontaram demasiadamente com a gente e para amigos de outrora: se chegaram a ser verdadeiramente importantes, nada impede que sejam relançados com novo rótulo, nova embalagem e nova função em nossas vidas. Prazo de validade para pessoas? Caramba, elas não são feitas de papelão ou plástico, não são seringas, fraldas, cartas de baralho. Já basta este mundo onde tudo é descartável. Que ao menos as pessoas que entraram em nossas vidas durem para sempre.





Martha Medeiros
.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vem cá, me dá um abraço?!?!?

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...